Pedalando pelas rotas Ciclísticas do Báltico
354 km foi a distância que percorremos. No geral, cumprimos uma média de 40 km por dia, com pico de 62 km no 7º dia.
9 Etapas: esse foi o número de dias efetivos de ciclismo que levei para completar o percurso. Mas houve cidades em que permaneci mais dias (como Tallin, Riga e Vilnius). Considerando todas as paradas, viajei pelo país por 18 dias.
3 países: Estônia, Letônia e Lituânia.
Durante o percurso, além das belas paisagens naturais, pude explorar uma variedade de atrações culturais, históricas e gastronômicas.
Parte 1: Planejamento – Tudo o que você precisa saber antes de pedalar
Parte 2: o relato da nossa viagem
Os Países Bálticos são um tesouro de história e cultura, com arquitetura centenária, castelos medievais e cidades vibrantes. Das cidades antigas bem preservadas de Tallinn, Riga e Vilnius às charmosas mansões rurais, a região oferece um vislumbre único de seu passado histórico. Cada país tem sua própria cultura distinta, mas todos compartilham um espírito acolhedor e que convida você a explorar sua herança.
Rotas Nacionais de ciclismo nos países Bálticos
Estônia: Rota Nacional 1 / EuroVelo 10 e EuroVelo 11.
A rede nacional de ciclismo da Estônia integra perfeitamente as rotas EuroVelo e as nacionais:
Rota Nacional 1: acompanha parte da costeira EuroVelo 10, estendendo-se por 981 km desde Pärnu até Tallinn, passando por parques nacionais, ferries para ilhas como Saaremaa e Hiiumaa, além de oferecer cenários naturais impressionantes
EuroVelo 11 / Rota Nacional 3: percorre desde a fronteira com a Letônia (Valga) até Tartu, Rakvere e, por fim, Tallinn, atravessando paisagens como os campos montanhosos de Otepää e o Haanja Uplands.
Letônia: EuroVelo 10 costeira e EuroVelo 11 no interior
Embora não exista uma rota nacional numerada como tal, o país tem percursos bem estruturados:
EuroVelo 11 (Rota da Europa Oriental): atravessa a Letônia de norte a sul (Valga a Daugavpils), passando por parques nacionais, cidades históricas como Sigulda e Cēsis, além da região de Latgale com seus lagos famosos, especialmente o Lago Lubāns.
EuroVelo 10 (Rota do Mar Báltico): ao longo de aproximadamente 680 km de litoral, oferece trechos cicláveis junto à costa, praias de areia branca e cidades encantadoras como Riga, Jurmala, Ventspils, Kuldīga e Liepāja.
Lituânia: Rota Histórica, Curonian Loop e E11 Forest Trail
A Lituânia se destaca por oferecer tanto rotas históricas quanto circuitos naturais guiados:
Lithuanian Historical Landmarks Route: com cerca de 342 km, essa rota conecta Vilnius, Trakai, Kaunas, Jurbarkas e até Šilutė, passando pela estrada pitoresca ao longo do rio Nemunas, igrejas históricas e vilas encantadoras.
Curonian Loop: um circuito de 185 km que percorre a Costa da Lituânia, incluindo o estuário do Curonian Lagoon, a Curonian Spit, e o delta do rio, com trechos ideais para famílias e inicantes.
E11 “Forest Trail”: um percurso longo de 747 km atravessando áreas naturais protegidas como os parques nacionais Dzūkija e Žemaitija, além de regiões patrimoniais e paisagens rurais diversas, com sinalização marcante .
As rotas da EuroVelo.
A EuroVelo (Rede Europeia de Ciclovias), é um projeto da Federação Europeia de Ciclistas com 17 rotas ciclísticas de longa distância cruzando todo o continente Europeu, unindo diferentes países, culturas e paisagens incríveis. O comprimento total destas rotas ultrapassa os 90.000 km.
Nos países bálticos, três rotas principais cortam a região: a EuroVelo 10, que acompanha a costa do Mar Báltico, passando por vilas de pescadores, ilhas e pelo deslumbrante istmo da Curonian Spit na Lituânia; a EuroVelo 11, que cruza o interior de norte a sul, mostrando parques nacionais e vales cheios de história; e a EuroVelo 13, conhecida como Iron Curtain Trail, que segue o antigo caminho da Cortina de Ferro, com trechos tranquilos na costa da Estônia e áreas rurais pouco visitadas.
Características do Percurso
As rotas variam entre asfalto, estradas de cascalho e trilhas de terra batida, com sinalização razoável, especialmente nos trechos oficiais EuroVelo. O tráfego de carros é mínimo, permitindo uma experiência tranquila e imersiva.
A altimetria do percurso é, em sua maioria, plana, o que torna a rota ideal tanto para iniciantes quanto para ciclistas mais experientes.
Sinalização
O percurso é bem demarcado, com placas indicando a direção da rota principal. A consistência visual dos sinais (cores, formatos e localização) ajuda bastante na navegação.
Quantos dias são necessários?
Depende do tempo que você tiver disponível. No meu caso, devido à limitação de tempo, optei por percorrer trechos específicos em cada país. Em alguns momentos, foi necessário transportar as bicicletas em ônibus para otimizar o deslocamento. Ao todo, a jornada foi dividida em 9 etapas, contemplando diversas cidades, vilarejos e paisagens naturais de grande beleza.
Qual bicicleta levar ou alugar
Uma bicicleta híbrida ou mountain bike é a escolha ideal para pedalar. Durante o percurso, encontrei ambos os tipos, mas as híbridas eram mais comuns por oferecerem maior conforto e desempenho nas ciclovias bem pavimentadas dos países bálticos.
Como a rota é longa e linear, levar sua própria bicicleta pode ser vantajoso, especialmente se você já estiver habituado ao seu equipamento. No meu caso, por questões logísticas (tinha compromissos em outros países após o trajeto), optei por alugar uma bicicleta— e foi uma excelente escolha. Eu optei pela Baltic Cycle, que fornece aluguel de bicicletas (incluindo mountain, Touring e e-bike) e tours guiados ou autônomos. A bicicleta foi entregue em Tallin e devolvida em Vilnius.
Mas há opções na Estônia, a City Bike em Tallinn oferece tours autoguiados e aluguel de bicicletas, contando até com serviço de entrega em diferentes locais . e na Letônia, o Riga Bike Tours oferece aluguel de bicicletas e tours (guiados ou autônomos), incluindo entrega/retirada em Riga ou arredores
Nossa opção nessa viagem.: e-bike (abreviação de “electric bikes”)
Nessa viagem pelos países Bálticos, optei pela e-bike, especialmente porque não estava sozinha — viajei acompanhada do meu marido( José Marques). Essa escolha fez toda a diferença, pois permitiu que aproveitássemos cada trecho com mais conforto e sem a preocupação constante com o esforço físico excessivo. A assistência elétrica nos deu a liberdade de explorar rotas mais longas, mantendo o ritmo agradável para nós dois, independentemente do terreno ou das distâncias. Pedalar lado a lado, tornou a experiência ainda mais especial e leve. A infraestrutura crescente para bicicletas elétricas na região, com pontos de carregamento e serviços de apoio, garantiu que nossa aventura fosse fluida e tranquila, permitindo que focássemos nas paisagens, nas cidades e nas histórias que cada quilômetro nos oferecia.
Caso decida levar sua bicicleta
Escolher a companhia aérea certa é um dos primeiros passos importantes para quem pretende viajar com bicicleta fora do Brasil. Durante o planejamento, é preciso pesquisar as opções de companhias aéreas – cada uma tem suas particularidades, vantagens e políticas específicas para o transporte de bicicletas. ( link no blog)
Independentemente da companhia escolhida, algumas dicas práticas podem tornar a experiência de viajar com bicicleta muito mais tranquila. Investir em uma caixa de boa qualidade é essencial para proteger o equipamento durante o voo, especialmente em rotas longas. Se o conjunto bicicleta + bagagem ultrapassar o peso permitido, vale a pena redistribuir os itens entre a mala despachada e a bagagem de mão para evitar taxas extras.
Também é recomendável informar a companhia aérea com antecedência sobre o transporte da bicicleta, mesmo quando isso não for obrigatório. Levar uma cópia impressa da política de transporte de bicicletas da companhia, assim como o comprovante da sua reserva com eventuais taxas já pagas, pode evitar dores de cabeça no balcão de check-in. E, para quem quer ainda mais segurança, colocar um rastreador GPS – como um AirTag – no estojo da bicicleta ajuda a acompanhar sua localização durante a viagem.
O seguro de viagem é outro ponto a considerar, principalmente se a bicicleta tiver alto valor. Além disso, é importante conhecer as regras locais de trânsito e ciclismo na Coreia, principalmente as relacionadas à famosa Rota Cross-Country que liga Seul a Busan. Levar ferramentas básicas e peças sobressalentes na bagagem despachada pode salvar o passeio em caso de pequenos problemas mecânicos.
Viajar com bicicleta exige planejamento, mas com as companhias certas e algumas precauções, a experiência de levar sua bicicleta pode começar com o pé direito – ou melhor, com o pedal certo.
Quando ir?
A localização ao norte da região cria considerações sazonais distintas:
- Alta temporada (junho a agosto) : longas horas de luz do dia (até 18+ horas), temperaturas confortáveis e infraestrutura turística completa
- Épocas intermediárias (maio e setembro) : menos turistas, clima moderado e instalações operacionais com menos multidões
- Baixa temporada (outubro a abril): infraestrutura turística limitada, potencial para condições climáticas adversas, mas paisagens de inverno únicas para aventuras de fat bike
Eu Prefiro de abril a início de novembro, evitando agosto (férias escolares e calor intenso). Minha viagem foi em meados de julho
Navegação e Apps Recomendados
Para navegação ao longo das rotas o Google Maps funciona. Para quem prefere utilizar arquivos GPX, plataformas como Komoot e RideWithGPS são ótimas opções. Os arquivos GPX da rota podem ser baixados diretamente nos sites da Eurovelo garantindo que você tenha acesso aos trechos atualizados e possa navegar com segurança mesmo offline.
Hospedagem
Nas rotas ciclísticas pelos países Bálticos, as opções de hospedagem são bastante variadas e conseguem atender diferentes perfis de viajantes. Para quem busca conforto, há uma boa oferta de hotéis e pousadas nas principais cidades e vilarejos ao longo do percurso, muitos deles com estrutura adequada para receber ciclistas. Os campings também são uma excelente escolha, especialmente em áreas populares como o Parque Nacional Lahemaa, a Curonian Spit, e as regiões próximas aos lagos e parques naturais da Estônia, Letônia e Lituânia. Esses locais costumam oferecer campings estruturados com áreas para barracas, às vezes com infraestrutura básica como banheiros, churrasqueiras e pontos para carregar equipamentos. Além disso, na Estônia e Letônia, o direito de acesso à natureza permite o “wild camping” ou seja, acampar em áreas públicas respeitando regras locais, o que é bastante comum entre cicloturistas,
Alimentação
Nos países Bálticos, a alimentação para quem viaja de bicicleta pode ser bastante acessível, especialmente se você souber onde procurar. Nas cidades maiores e em vilarejos turísticos, há uma boa oferta de cafés, padarias e pequenos restaurantes que servem pratos locais a preços razoáveis. Para economizar, mercados locais e supermercados são excelentes opções para comprar alimentos prontos ou ingredientes frescos, ideais para montar lanches rápidos durante o dia de pedal. Muitas vezes, também é possível encontrar feiras ao ar livre onde agricultores locais vendem frutas, queijos e outros produtos frescos, que ajudam a manter a energia sem pesar no bolso. De modo geral, com um pouco de planejamento e curiosidade, é possível se alimentar bem e gastando pouco enquanto explora as belezas naturais e culturais dos países Bálticos.
Orçamento
Tudo vai depender do estilo de viagem que você escolher. Se a ideia for acampar ao longo do caminho, é perfeitamente possível e gratuito. Para quem prefere um pouco mais de conforto, hospedando-se em motéis simples ou pousadas com café da manhã incluído, o gasto diário costuma ficar entre €20 e €80.
A alimentação também varia conforme as escolhas. Os supermercados ao longo do percurso oferecem uma ampla variedade de comidas prontas e embaladas, ideais para economizar. Já os restaurantes, especialmente os mais tradicionais ou localizados em áreas turísticas, costumam ter preços mais elevados. Com um pouco de planejamento, dá para equilibrar bem conforto e economia durante a viagem
O que levar no alforje
Quando se trata de bagagem, vale o seguinte: o mínimo possível, o máximo necessário. Aqui está uma lista (link para a matéria no blog) do que, na minha opinião, são as coisas mais importantes a se levar.
Além disso, não se esqueça de verificar sua bicicleta cuidadosamente antes da viagem. Viajar de bicicleta é definitivamente mais divertido quando as marchas e os freios estão ajustados corretamente e todas as partes móveis estão bem lubrificadas. Você também deve verificar os pneus antes do passeio. Recomendo aprender o básico de mecânica de bicicleta, como, por exemplo, trocar um pneu.
É aconselhável ter algumas ferramentas na bagagem: alavanca de pneu, kit de reparação/câmara de substituição e, claro, uma bomba de bicicleta.
Aconselho também a levar um kit de primeiros socorros.
Nosso roteiro
O ponto de partida: Tallinn, capital da Estônia
Uma cidade que combina, com perfeição, a atmosfera da história medieval e a energia da modernidade. Seu centro histórico, declarado Patrimônio Mundial pela UNESCO, é um dos mais completos e autênticos da Europa, com muralhas imponentes, torres bem preservadas e ruas de paralelepípedo que contam histórias de séculos passados.
Tallinn já foi um ponto estratégico da Ordem Teutônica e, mais tarde, integrou o Império Russo. Após décadas sob o domínio soviético, conquistou sua independência em 1991 e, desde então, se desenvolveu rapidamente, encontrando um equilíbrio fascinante entre tradição e inovação.
Passamos três dias na cidade — tempo suficiente para mergulhar em sua história. Caminhar por suas ruas de paralelepípedo, observando o vai e vem dos moradores, foi um privilégio e uma viagem no tempo.
1ª Etapa: Loop pelo Parque Nacional Lahemaa
Sagadi – Altja – Võsu – Käsmu – Koljaku – Palmse – Sagadi
O Parque Nacional Lahemaa é uma das maiores áreas protegidas da Estônia e um dos locais naturais mais importantes do país. Conhecido por sua diversidade ecológica, abriga florestas densas, pântanos, costas recortadas e vilarejos de pescadores preservados.
Iniciamos nosso pedal em Sagadi, um vilarejo localizado dentro do parque, conhecido por seu imponente Sagadi Mõis (Mansão de Sagadi), um conjunto de edifícios do século XVIII em estilo barroco. Cuidadosamente restaurado, o local abriga hoje um hotel, um museu e a Nature School — um projeto inspirador que ensina crianças sobre a preservação do meio ambiente, da fauna e da flora.
Ficamos hospedados no hotel da propriedade e pudemos aproveitar cada detalhe: visitar o museu e seus objetos cheios de história, explorar a mansão com seus salões imponentes e conhecer de perto os projetos que mantêm viva a relação harmoniosa entre cultura e natureza.
Deixamos o hotel sob uma chuva fina e seguimos pela rota EuroVelo 10, um percurso plano, pavimentado e bem-sinalizado, que atravessa trechos de floresta. A chuva persistiu durante todo o trajeto, mas nada que atrapalhasse a pedalada.
Ao longo desse loop, Sagadi e Palmse encantam com seus castelos históricos , enquanto Altja, Vosu e Vergi revelam o charme rústico das aldeias costeiras, com sua atmosfera tranquila e autêntica.
2ª Etapa: Ao longo do Lago Peipus
Mustvee – Kallaste – Alatskivi – Kolkja – Värnja
No percurso de hoje, seguimos pedalando ao lado do Lago Peipus, um dos maiores da Europa, que forma a fronteira natural entre a Estônia e a Rússia. Ao longo do trajeto, fizemos breves paradas em pequenas cidades e vilarejos à beira do lago, como Mustvee e Kallaste, conhecidos por suas comunidades de Velhos Crentes russos, com igrejas de madeira e tradições preservadas.
Nesse trecho, seguimos pela Rota Nacional 3 (EE3), um percurso tranquilo que, por vezes, acompanhava estradas compartilhadas, mas com pouquíssimo tráfego e cercadas por paisagens rurais.
No caminho, tivemos um encontro inesperado: próximo a Alatskivi, encontramos o Rannamõisa Tamm, também conhecido como Kodavere Oak. Este carvalho centenário — considerado sagrado pela população local — é reconhecido como monumento arqueológico desde 1997 e protegido como objeto natural desde 1937. Uma verdadeira pausa contemplativa.
Ainda na rota, passamos por Kolkja e Varnja, com suas casas de madeira e pequenos museus que retratam o cotidiano ribeirinho.
Nessas comunidades, a pesca no Lago Peipus ainda é uma atividade central. Pedalar por essa região é mergulhar na cultura local e nas histórias das vilas .
O destino do dia foi Tartu, uma cidade onde a história medieval se encontra com a efervescência jovem de uma universidade com quase quatro séculos. No alto da Colina Toome, Tartu guarda um tesouro histórico: as ruínas da imponente Catedral de Tartu (Tartu Toomkirik). Construída no final do século XIII, em estilo gótico de tijolos, foi uma das maiores igrejas da região báltica.
3ª Etapa: Suíça Estoniana — Otepää – Sangaste – Cesis – Sigulda
No percurso de hoje, seguimos pedalando pela região conhecida como “Suíça Estoniana” — famosa por sua topografia suave, colinas ondulantes e um charme que contrasta com a paisagem predominantemente plana do país. Logo cedo, passamos por Otepää, apelidada de “capital de inverno” da Estônia e reconhecida como um importante centro de esportes de neve.
O dia começou sob chuva forte, que nos acompanhou por alguns quilômetros. A rota seguiu pela Ciclovia Nacional 3, que nesse trecho se sobrepõe à EuroVelo 11.
Durante um bom tempo, pedalamos por uma ciclovia paralela à estrada, em meio a campos verdes , sob o céu cinzento. No caminho, passamos pelo Lago Kaarik, que pedia uma pausa mais longa, não fosse o clima instável.
Em alguns trechos, a rota nos levou por florestas ,estradas vicinais e trechos de cascalho, até que voltamos novamente para a ciclovia junto à estrada.
Foi assim que chegamos a Sangaste, conhecida por seu castelo gótico — um dos mais bonitos e imponentes da Estônia.
De lá, seguimos para Cēsis, uma charmosa cidade medieval famosa pelo seu castelo do século XIII e pelas ruas de paralelepípedo que preservam o clima histórico.
Depois de uma breve parada, continuamos rumo a Sigulda, situada no Vale do Rio Gauja e apelidada de “Suíça da Letônia” por suas colinas, florestas e vistas panorâmicas, além das ruínas do antigo castelo medieval de Sigulda, construído no século XIII pelos Cavaleiros da Espada, de onde pode admirar a vista para o vale.
4ª Etapa: Parque Nacional Gauja
Sigulda – Turaida – Ragana – Riga
Hoje a rota nos levou ao coração da Letônia, atravessando o Parque Nacional Gauja, o maior do país e um verdadeiro refúgio de natureza preservada. O percurso incluiu pequenos trechos de trilhas na floresta.
Logo chegamos à Caverna Gutmana, a maior caverna do Báltico, envolta em lendas e permeada por uma energia ancestral. Formada a partir do arenito amarelo-acastanhado das margens do rio Gauja, sua origem se deve a uma interação milenar entre o rio e uma nascente subterrânea. Nas paredes da caverna, inscrições antigas contam histórias de séculos passados, conferindo ao lugar um ar místico.
Diz a lenda que, nos tempos antigos, a caverna abrigava um homem bondoso que utilizava a água da nascente para curar os necessitados. É dele que vem o nome da caverna: “Gutmana”, da expressão alemã gut Mann, que significa “homem bom”. Cada detalhe do local — parece contar essas histórias, tornando a parada interessante.
Depois da parada, seguimos por uma estrada compartilhada, enfrentando uma subida acentuada até chegar ao Turiba Castle. O castelo, com sua imponência e história, proporcionou uma pausa bem-vinda e a chance de admirar a paisagem do alto.
Daqui a rota continuou por estradas rurais de cascalho até Ragana, uma vila próxima.
Finalmente, seguimos para o destino do dia: Riga, encerrando mais uma etapa.
Em Riga ficamos dois dias para explorarmos com calma o que a cidade tinha para nos oferecer.
5ª Etapa: De Riga a Jurmala
Hoje deixamos a agitação da capital da Letônia para seguir em direção a Jurmala, a famosa cidade resort à beira do Mar Báltico, conhecida por suas longas praias de areia branca, spas e bosques de pinheiros. O caminho entre as duas cidades nos levou por uma ciclovia paralela à ferrovia, um percurso agradável que alternava trechos urbanos e florestas tranquilas.
Ao chegarmos, fomos recebidos por uma neblina densa que cobria toda a praia. Ainda assim, percorremos pedalando toda a extensão da areia batida, que facilitou o pedal e nos permitiu sentir o mar próximo.
Depois, exploramos o charmoso centrinho da cidade, com seus cafés e pequenas lojas, sentindo o ritmo tranquilo da pequena cidade.
O percurso de volta a Riga não era longo, mas optamos por pegar o trem, aproveitando para observar como o transporte de bicicletas funcionava por ali e descansar um pouco das pedaladas.
Foi um dia leve e de contemplação
6ª Etapa: Lithuanian Seaside Cycle Route — Sventoji – Palanga – Klaipėda
Hoje seguimos por uma rota costeira na Lituânia, conhecida por suas paisagens de praias arenosas, florestas de pinheiros e pequenas cidades litorâneas. Deixamos Sventoji, uma vila tranquila e acolhedora, e seguimos em direção a Palanga, a principal estação balneária do país.
O percurso segue pela Ciclovia Nacional nº 10, uma rota pavimentada que passa por florestas e oferece diversos acessos às praias. Pedalar por ali foi um prazer: o caminho é lindo, tranquilo e permite sentir a brisa do mar misturada ao aroma dos pinheiros.
Pouco antes de chegarmos a Klaipėda, uma chuva nos surpreendeu. Fizemos uma pausa rápida para nos agasalhar e, logo em seguida, retomamos o pedal até a cidade.
Klaipėda nos recebeu com seu porto histórico e sua arquitetura alemã.
7ª Etapa: Klaipėda a Nida (Istmo da Curlândia – Curonian Spit)
Logo pela manhã deixamos Klaipėda e seguimos para o porto, onde embarcamos em um ferry rumo ao Parque Nacional do Istmo da Curlândia, uma área protegida e Patrimônio Mundial da UNESCO, famosa pelas dunas de areia que se erguem entre o Mar Báltico e a Lagoa de Curlândia. A travessia foi curta, mas suficiente para sentir a expectativa da nova paisagem que nos aguardava.
Assim que desembarcamos, fomos surpreendidos por uma chuva fina, que logo deu trégua. Iniciamos a rota pela Ciclovia Nacional nº 10 que nesse trecho se conecta à EuroVelo 13, uma ciclovia invejável: plana, com piso pavimentado e muito bem-sinalizada. Pelo caminho, surgiam diversos acessos à praia, através de escadarias de madeira que te convidavam a ver o mar de pertinho.
Não demorou até chegarmos à primeira vila, Pervalka — tranquila, marcada pelas tradicionais casinhas coloridas dos pescadores.
Mais adiante, fizemos uma parada para conhecer Užpustyti kaimai, as chamadas “vilas soterradas”: antigos povoados que desapareceram sob o avanço das dunas móveis do Istmo da Curlândia. Hoje restam apenas histórias e lendas, lembrando como a força da natureza é capaz de redesenhar mapas e apagar lugares inteiros da paisagem.
A rota segue ora por trilha ora por ciclovias, no caminho florestas de pinheiros e bétulas se alternam, formando túneis verdes.
Seguimos pedalando até Nida, uma vila de origem pesqueira que conserva seu charme e está cercada por paisagens impressionantes. Encerramos o dia com a sensação de missão cumprida e ainda tivemos tempo de explorar a pequena cidade, visitando o Thomas Mann Museum. O museu é dedicado ao escritor alemão Thomas Mann, que passou temporadas em Nida durante os anos 1930, e apresenta exposições sobre sua vida, obra e relação com a região, incluindo fotos, cartas e objetos pessoais que permitem compreender a inspiração que encontrou neste refúgio à beira-mar.
8ª Etapa: The Nemunas River Delta — Šturmai – Vente – Šilutė
Hoje, a primeira etapa da viagem foi de barco. As bicicletas foram acomodadas a bordo e seguimos por cerca de uma hora e meia pela Curonian Lagoon, uma imensa lagoa costeira separada do Mar Báltico pelo estreito e arenoso Istmo da Curlândia. Suas águas calmas, aldeias de pescadores e rica vida selvagem tornaram o percurso agradável, apesar da brisa fria.
A rota seguiu pelo Delta do Rio Nemunas, uma área de grande valor ecológico na Lituânia, onde o maior rio do país se ramifica antes de encontrar a Curonian Lagoon. É um verdadeiro refúgio para aves migratórias, com paisagens de campos alagados, canais e vilarejos tradicionais, oferecendo um vislumbre autêntico da vida rural lituana.
O barco nos deixou na pequena vila de Šturmai, com suas casas de madeira coloridas e tradição pesqueira.
De lá, seguimos pedalando, passando por Ventė indo em direção em Šilutė.
Próximo a Šilutė, fizemos um desvio para explorar o Aukštumala pažintinis takas, uma trilha de madeira que atravessa uma das turfeiras mais antigas e importantes da Europa. O caminho segue por passarelas suspensas sobre o solo encharcado, permitindo observar de perto esse ecossistema raro, onde a vegetação se mistura entre musgos, arbustos baixos e pequenas lagoas. Saber que a natureza levou milhares de anos para criar essas camadas de turfa — e poder ver isso de tão perto — foi um privilégio.
Dali, a poucos quilômetros, chegamos a Šilutė e, depois de um breve descanso, seguimos de ônibus por 185 km até Kaunas, nosso destino do dia.”
9ª Etapa: Rolling Road to Trakai
Pastreviai – Strevininkai – Šalčininkai – Babriškės – Trakai
O percurso de hoje segue pela “Rolling Road”, uma estrada que, embora não oficial, se tornou popular entre ciclistas, com tráfego quase inexistente e ondulações suaves.
Deixamos Pastrevys, uma vila tranquila conhecida por suas paisagens naturais e pela proximidade com o Lago Elektrėnai. A rota segue passando por pequenos vilarejos, como Strėvininkai, que historicamente teve uma comunidade judaica significativa no final do século XIX; Šalčininkai, uma cidade com rica herança cultural; e Babriškės, uma das menores localidades do país, com cerca de 25 habitantes, onde a igreja local funciona como ponto de encontro comunitário e reflete a importância da fé na vida dos moradores.
À medida que nos aproximamos do destino, a paisagem muda sutilmente: o Lago Galvė aparece à distância.
E finalmente, chegamos a Trakai, uma cidade pitoresca famosa pelo Castelo de Trakai, uma fortaleza medieval situada em uma ilha no Lago Galvė, e pela comunidade Karaite, que preserva tradições culturais únicas. De Trakai seguimos para o destino final da nossa jornada : Vilnius
O ponto chegada : Vilnius
Vilnius foi o ponto final da nossa jornada pelos Bálticos, e a cidade parecia um fechamento perfeito. Caminhar por suas ruas de paralelepípedos, cercadas por igrejas barrocas e torres que se erguem no horizonte, foi como entrar em um livro de história vivo. A mistura de culturas — lituana, polonesa, judaica e russa — se revela na arquitetura e na atmosfera acolhedora. Do alto da Colina de Gediminas, a vista do centro histórico, com seus telhados vermelhos e torres que despontam entre o verde, trouxe a sensação de despedida e gratidão. Terminar ali, onde tradição e modernidade se encontram de forma tão harmoniosa, deu à viagem um tom de celebração e memória.
Pedalar pelos países Bálticos foi mais uma experiência memorável. As ciclovias bem cuidadas e as rotas integradas à rede EuroVelo proporcionam segurança e fluidez, permitindo uma cicloviagem tranquila. A diversidade das paisagens — desde as florestas densas e os lagos cristalinos da Estônia, passando pelos vales e castelos medievais da Letônia, até as dunas e praias douradas da Lituânia — cria um roteiro repleto de contrastes e encantos. Além disso, a hospitalidade dos locais, a tranquilidade das pequenas vilas e a possibilidade de se conectar profundamente com a natureza transformaram esta jornada em uma experiência única e inesquecível.
