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Como viajei de bicicleta por países “caros” sem gastar uma fortuna.

Como viajei de bicicleta por países “caros” sem gastar uma fortuna.

Uma das perguntas que mais recebo aqui no Pedalar e Viajar é se viajar de bicicleta pela Europa gastando pouco é realmente possível ou se sai caro demais.
Muita gente acredita que países como França, Suíça, Itália e Áustria são destinos quase inacessíveis. Confesso que, antes de pedalar por eles, eu também tinha essa dúvida.

No entanto, a experiência me mostrou outra realidade.

Ao longo das minhas cicloviagens por esses países, consegui manter um orçamento médio entre US$ 25 e US$ 35 por dia, por pessoa. Para mim, esse valor sempre representou um bom equilíbrio entre o essencial e o prazer.

Não foi uma viagem de privações.
Também esteve longe de qualquer excesso.

Abri mão de alguns confortos, sim.
Ainda assim, não deixei de viver o que realmente importa: visitar um museu quando dava vontade, sentar em um restaurante local de vez em quando ou simplesmente apreciar um café em uma praça no fim da tarde.

Com o tempo, aprendi que dois fatores são decisivos para manter os gastos sob controle:

Saber onde economizar — e quando vale a pena gastar um pouco mais — faz toda a diferença. Dessa forma, a viagem se mantém financeiramente sustentável e prazerosa ao mesmo tempo.

É sobre essas estratégias, vividas na prática, que falo a seguir.

Alojamento: como viajar de bicicleta pela Europa gastando pouco

De modo geral, os hotéis na Europa podem ser bastante caros, especialmente em áreas turísticas. Mesmo quando surgem boas ofertas, ficar em hotel todas as noites acaba pesando no orçamento.

Por outro lado, viajar de bicicleta abre portas que muitas vezes não estão disponíveis para outros tipos de viagem. Ao longo dos anos, descobri várias formas de hospedagem gratuita ou de baixo custo para cicloturistas.

Além de economizar, essas alternativas tornam a experiência muito mais rica.

Warm Showers: hospedagem gratuita para quem viaja de bicicleta

Se você já pesquisou sobre cicloviagem, provavelmente já ouviu falar do Warm Showers. Ele funciona de forma semelhante ao Couchsurfing, mas é exclusivo para cicloturistas.

Após o cadastro, é possível:

Atualmente, o WarmShowers adotou um modelo de assinatura. Novos usuários pagam uma taxa única de cerca de US$ 30 para se inscrever. Há também uma taxa mensal para uso do aplicativo no celular. O site, porém, pode ser acessado pelo computador sem custo adicional.

Usei o WarmShowers poucas vezes, mas sempre tive experiências marcantes. Em uma delas, na França, fui acolhida por uma família extremamente gentil. Eles me hospedaram mesmo tendo planos de receber convidados para um jantar naquela noite.

Ficar na casa de moradores locais enriquece a viagem de uma forma que dinheiro nenhum paga. É ali que conhecemos costumes, histórias e o cotidiano real do país.

Redes de acampamento gratuito

Além do WarmShowers, existem redes voltadas especificamente para quem viaja com barraca.

O Welcome to My Garden, por exemplo, permite que anfitriões disponibilizem espaço em seus jardins para acampamento gratuito. Alguns oferecem acesso a chuveiro, cozinha ou lavanderia. Tudo depende do anfitrião.

Outra rede semelhante é o 1Nite Tent, mais comum na Alemanha, mas com alguns anfitriões espalhados por outros países europeus.

Acampamento selvagem: quando foi necessário

O acampamento selvagem não foi uma prática constante nas minhas viagens. Na verdade, só optei por esse tipo de pernoite durante a cicloviagem pela Patagônia, no trecho entre El Chaltén e Ushuaia.

Ali, as distâncias são longas. A infraestrutura é escassa. A imensidão da paisagem acaba tornando essa escolha quase natural — e, em alguns casos, necessária.

Mesmo assim, nunca foi uma decisão tomada de forma leviana. O acampamento selvagem exige responsabilidade, discrição e informação, já que as regras variam bastante de um país para outro.

Regras e proibições: o que você precisa saber

Antes de montar a barraca, sempre pesquisei a legislação local. Em muitos países, o acampamento selvagem é proibido por lei ou permitido apenas sob condições específicas:

  • França: em geral, é proibido acampar fora de áreas designadas, especialmente em parques naturais e regiões costeiras. Em algumas zonas rurais, o bivouac (montar a barraca ao entardecer e desmontar ao amanhecer) pode ser tolerado, desde que longe de casas e áreas protegidas.

  • Itália: o acampamento selvagem é amplamente proibido, e as multas podem ser altas. Algumas regiões fazem vista grossa para pernoites muito discretos, mas não é algo garantido.

  • Espanha: as regras variam conforme a comunidade autônoma, mas, no geral, acampar fora de áreas autorizadas é ilegal, especialmente em áreas naturais.

  • Suíça: bastante restritiva. O acampamento selvagem é proibido abaixo da linha das árvores e em parques nacionais. Acima dessa linha, pode ser tolerado em áreas alpinas, desde que não haja impacto ambiental.

  • Alemanha e Áustria: regras rigorosas. O acampamento fora de áreas oficiais é proibido, inclusive em florestas.

Na Patagônia, especialmente em trechos isolados da Argentina e do Chile, o contexto é diferente. As áreas são vastas e pouco povoadas. Em alguns pontos, não há alternativa viável de hospedagem. Ainda assim, parques nacionais mantêm regras próprias, e acampar fora das áreas permitidas pode resultar em multas.

Campings estruturados: a opção que mais utilizei

Os campings estruturados foram uma das formas de hospedagem que mais utilizei ao longo das minhas viagens. Muitos deles oferecem tendas já montadas ou pequenas cabanas, o que facilita bastante a vida de quem viaja de bicicleta.

A oferta, o custo e a qualidade variam bastante entre os países. Na França, por exemplo, existem os campings municipais, geralmente mais simples e baratos. Mesmo assim, oferecem boa infraestrutura, como banheiro, chuveiro e, em alguns casos, cozinha coletiva.

Esses campings são uma ótima opção para quem busca um local organizado e seguro ao final do dia. Apenas recomendo atenção. Alguns são muito voltados para motorhomes e podem ser barulhentos ou pouco acolhedores para quem está de barraca.

Sempre que possível, observo o ambiente antes de me instalar ou converso com outros cicloviajantes.

Alimentação: como comer bem gastando pouco

Para mim, a alimentação sempre foi uma das áreas mais desafiadoras para manter o orçamento sob controle. Gosto de experimentar a culinária local. Por isso, me permito comer fora de vez em quando.

Ainda assim, supermercados e lojas de conveniência são grandes aliados. Hoje, a oferta de comidas prontas de boa qualidade é excelente em muitos países. Saladas, massas, sanduíches, sopas, frutas já cortadas e refeições aquecidas fazem parte da rotina.

Na Coreia do Sul, por exemplo, as lojas de conveniência funcionam quase como uma extensão da infraestrutura do viajante. Elas oferecem micro-ondas, máquinas para preparo de lámen e até áreas para sentar e comer. Muitas vezes, foram minha solução prática e econômica para uma refeição quente ao final do dia.

Na França, as padarias artesanais foram grandes aliadas. Os produtos eram baratos e de altíssima qualidade. Uma baguete custava cerca de 1,10 euro, e os doces variavam entre 1,50 e 4,50 euros. Muitas vezes, meu café da manhã e almoço eram sanduíches simples, feitos com baguete, queijos e frios locais.

Outra opção acessível, exceto na Suíça, foi o döner kebab. Trata-se de uma refeição farta, geralmente por cerca de 10 euros, ou ainda menos na versão sanduíche. Na Itália, as pizzas vendidas em fatias eram deliciosas, baratas e perfeitas para um almoço rápido.

Ainda assim, busco equilíbrio. Cozinho quando tenho estrutura, uso supermercados no dia a dia e deixo os restaurantes para momentos pontuais.

Considerações finais

Viajar de bicicleta pela Europa com orçamento limitado exige planejamento. Também pede escolhas conscientes. Em alguns momentos, exige renúncia.

Cada pessoa tem uma realidade diferente. Quem viaja por poucos dias pode querer visitar muitos museus ou experimentar a gastronomia local com mais frequência. Isso é totalmente válido.

O objetivo deste post é mostrar que viajar de bicicleta pela Europa gastando pouco é totalmente possível, mesmo em países considerados caros.

Com pesquisa, organização e acompanhamento regular dos gastos, dá para ajustar o ritmo, cortar excessos quando necessário e, principalmente, continuar viajando.

Porque, no fim, o que mais importa não é quanto se gasta,
mas como se vive o caminho.

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