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Viajar sozinha de bicicleta: dicas essenciais

Viajar sozinha de bicicleta: dicas essenciais

Quem disse que mulher não pode viajar de bicicleta sozinha?

Durante muito tempo, a ideia de uma mulher viajar  sozinha de bicicleta parecia impensável. O mundo lhes dizia para ficar — e elas decidiram partir. No final do século XIX, Annie Londonderry deixou Boston com uma bicicleta, uma saia longa e uma aposta audaciosa: dar a volta ao mundo pedalando sozinha. Entre olhares incrédulos e manchetes de jornal, ela provou que o corpo feminino era tão capaz quanto a vontade que o movia. Poucos anos depois, Nellie Bly cruzava oceanos sozinha, desafiando a imprensa e os padrões de comportamento da época.

Essas pioneiras abriram uma fresta por onde muitas outras passariam. Na década de 1960, essa fresta virou estrada. A irlandesa Dervla Murphy atravessou de bicicleta o caminho entre a Irlanda e a Índia, enfrentando neve, montanhas e preconceitos — e transformou sua experiência no clássico Full Tilt. Logo surgiram nomes como Josie Dew, que percorreu mais de 500 mil quilômetros pedalando pelo mundo, com humor e ousadia.

Enquanto essas mulheres escreviam a história do cicloturismo feminino no mundo, no Brasil outras também começaram a traçar seus caminhos. Nos anos 1980, Zilda dos Santos já cruzava o país sozinha, quando pedalar era visto como um gesto quase insensato. Suas viagens abriram as primeiras trilhas para o cicloturismo feminino nacional. Décadas depois, novas vozes tomaram o guidão. Julia Hirata, por exemplo, com o projeto Extremos das Américas, pedalou do Alasca ao Chile, levando nas rodas a ideia de que o planeta é uma sala de aula ao ar livre — e a bicicleta, o melhor instrumento de aprendizado.

É nessa mesma estrada aberta por tantas mulheres que eu sigo hoje. Nos últimos anos, venho explorando o mundo viajando sozinha — e já pedalei por 31 países em cinco continentes.

Transformando inspiração em prática

Inspiradas por essas pioneiras que abriram caminho antes de nós, cada vez mais mulheres se lançam em viagens sozinhas de bicicleta. E se esse também é o seu sonho, saiba que ele está ao seu alcance. Viajar sozinha pode ser uma das experiências mais transformadoras da vida — e, com planejamento e alguns cuidados essenciais, a estrada se torna um espaço de liberdade e autoconhecimento.

Comece por destinos amigáveis

Se esta for a sua primeira viagem solo de bicicleta, escolher destinos acolhedores faz toda a diferença. Opte por lugares onde você domine o idioma ou que estejam acostumados a receber mulheres viajantes. Isso facilita a adaptação e aumenta a confiança nas primeiras pedaladas.

Explorar destinos dentro do Brasil também é uma excelente opção inicial. A proximidade cultural, a facilidade de comunicação e a logística mais simples tornam a experiência mais leve. Quanto mais confortável for a sua primeira viagem, mais segurança você terá para planejar desafios maiores no futuro.

Segurança: a base da liberdade

A segurança é um dos pilares de qualquer viagem de bicicleta sozinha. Antes de reservar a hospedagem, pesquise bem a região e observe o entorno no Google Maps. Ler avaliações deixadas por outras mulheres viajantes pode revelar detalhes importantes que nem sempre aparecem nas descrições oficiais.

Evite escolher acomodações em áreas suspeitas apenas pelo preço. A economia não compensa se colocar sua segurança em risco. Da mesma forma, mantenha familiares ou amigos informados sobre seu trajeto e horários estimados de deslocamento.

Também é essencial se informar sobre o destino antes de embarcar. Ler notícias recentes e recomendações oficiais ajuda a evitar surpresas desagradáveis. Consultar relatos em blogs de mulheres que já estiveram lá traz uma perspectiva mais realista e próxima da sua experiência do que qualquer guia turístico.

Presença e postura fazem diferença

Uma dica valiosa para quem viaja sozinha é evitar parecer turista. Estude o mapa da cidade antes de sair do hotel e caminhe com segurança, mesmo que ainda esteja se situando. Andar distraída com o celular ou com o mapa aberto pode chamar atenção desnecessária.

Quanto mais confiante você parecer, mais tranquila será sua jornada. Pequenos cuidados no dia a dia também fazem diferença: evite chegar ou sair de madrugada, escolha vagões e espaços frequentados por famílias ou grupos e respeite os códigos de vestimenta locais, especialmente em países mais conservadores.

Entender e respeitar a cultura do outro faz parte da riqueza de viajar — e mostra que a bicicleta não é apenas um meio de transporte, mas uma ponte entre mundos.

Intuição: seu mapa mais confiável

Por fim, confie sempre na sua intuição — ela é a sua bússola mais precisa em uma viagem solo feminina. Se algo parecer estranho, é porque provavelmente é. Não hesite em mudar de plano, pedir ajuda, gritar ou chamar atenção se necessário. Sua segurança está acima de qualquer formalidade ou “boa educação” que muitas vezes aprendemos a priorizar.

A estrada é um convite ao autoconhecimento e à liberdade. E essa liberdade começa quando você acredita em si mesma e no seu instinto. Ao seguir o exemplo das mulheres que abriram caminho antes de nós, você descobrirá que não é a coragem que nasce primeiro — é a curiosidade. E é ela que, pedalada após pedalada, transforma o mundo em sua casa.

Conclusão: o mundo ao alcance do guidão

Viajar sozinha de bicicleta não é um ato de bravura isolado — é uma celebração da autonomia, da confiança e da conexão com o mundo. É também uma forma de honrar as mulheres que desafiaram expectativas e ampliaram caminhos para todas nós.

A estrada está aberta e esperando por você. E, como provaram Annie Londonderry, Dervla Murphy, Zilda dos Santos e tantas outras, liberdade não é um destino: é o próprio caminho.

mulher viajando sozinha de bicicleta

A estrada está aberta e esperando por você. E, como provaram Annie Londonderry, Dervla Murphy, Julia Hirata e tantas outras, liberdade não é um destino: é o próprio caminho.
E se você quiser dar os próximos passos nessa jornada, descubra também como preparar sua primeira viagem de bicicleta e confira o nosso guia completo de cicloturismo — porque cada pedalada começa com uma boa preparação.

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